sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Continuação Divina



                                         O Homem é o ser encarregado de continuar a obra do Criador Supremo, onde Ele não é conhecido por si mesmo: não em sua ordem divina fundamental; pois, ali, Ele executa sua geração eterna e secreta. O homem continua ao Criador nas manifestações e na ordem das emanações, pois ali Deus se faz conhecido somente através de suas imagens e representantes.
                                         O Homem continua a obra do Criador, ou, em outras palavras, o recomeça, como um embrião ou um germe recomeça uma árvore, ao nascer imediatamente daquela árvore, sem agente intermediário. Um recomeça o Outro como um herdeiro recomeça seu antecessor, ou um filho a seu pai, tomando posse de todos os pertences do predecessor ou do pai; de outra forma ele não poderia representá-lo; só há uma diferença, na ordem espiritual, a vida ainda permanece na fonte que a transmite, porque esta fonte é simples; enquanto que, na ordem material, a vida não permanece na fonte que a engendra, pois esta fonte é mista, e não pode engendrar apenas ao dividir a si mesma. Na ordem material, particularmente na vegetação, o fruto, que é a vida ou o germe, e o grão, que é morte, estão intimamente conectados. No grão, a vida está oculta na morte; no fruto, a morte está oculta na vida. O processo de recomeço abolido pela queda.
                                         Tenho descrito o Homem até aqui somente em relação ao seu estado original; ao descrevê-lo de acordo com o que tem feito de si mesmo pelo uso falso e criminoso de seus privilégios, este alto privilégio que ele possuía de recomeçar ou de continuar a obra divina, desaparece; e somos compelidos a dizer que, desde esta época fatal, o Supremo tem tido, ao contrário, que recomeçar o Homem; o Criador recomeça o Homem diariamente, o recriando em sua divina semelhança e imagem.
                                         Pois, não só no momento de sua queda, o Criador foi obrigado a recomeçar o Homem, ou renovar seu contrato divino com ele, mas em todas as épocas, nas quais Ele enviou leis para nossa restauração; épocas que renderam inutilidades pela nossa falta de respeito por seus presentes, e o pequeno fruto que retiramos delas, teve que ser sucedido por outro, sempre mais importante que seu predecessor; mas que, por sua vez, fora igualmente profanado por nós, o que só nos prejudica, ao invés de nos auxiliar; isto requer que o Amor Divino nos recomece novamente. Se assim não fosse, este universo visível, onde estamos aprisionados, teria sido, há muito tempo, lançado novamente no abismo, fora do alcance do Amor supremo.

                                         O Processo de libertação do Homem: do crime, através da lei, para a ação vital. O Homem passou do crime para as trevas. Ao deixar as trevas a Divindade Suprema o fez passar pela Natureza. Ao deixar a Natureza, Ele o fez passar pelo ministério da Lei. Fora do ministério da Lei passou por aquele das orações, ou a Lei da graça que deveria ter restaurado todas as coisas para ele.
                                         Mas, como o sacerdócio humano tem corrompido esta lei da graça tornando-a vã, ela teve que ser suspensa, por sua vez, e substituída por uma ação vital violenta, assim como a oração, ou a lei da graça havia substituído a lei que fora mal usada pelos judeus; tal é o Espírito de sabedoria e a terna benevolência, com que o Amor Supremo conduz ou admite que aconteça todos estes lamentáveis eventos dos quais o homem terrestre reclamam, esquecendo que seus próprios crimes os produziram, deixando a terra em completa desordem, enquanto que ele nasceu no mundo para pacificar e melhorar todas as coisas.

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