quarta-feira, 6 de junho de 2012

Derramamento do Santo Espírito

                           
                                O Espírito Santo é dado pela Confirmação, por intermédio do fogo, pois o óleo nada mais é do que uma forma líquida de fogo, assim como o vinho; a diferença entre o Batismo e a Confirmação poderia ser definida assim: o Batismo tem uma função negativa ou positivo-negativa, já que afasta o estado de queda, enquanto que a Confirmação é um sacramento que tem uma função puramente positiva, na medida em que confere uma luz e um poder que são divinos.
                                Essa transmissão requer uma nova dimensão e recebe sua total eficácia através dos votos que correspondem aos conselhos evangélicos; esses votos - verdadeiro fermento Iniciático - denotam, ao mesmo tempo, uma morte e um segundo nascimento, e são acompanhados por ritos funerais simbólicos; a consagração de um monge é uma espécie de sepultamento. Através da pobreza, o homem se mantém à parte do mundo; através da castidade se mantém à parte da sociedade; e através da obediência, ele se mantém à parte de si mesmo.
                               Todo o Cristianismo baseia-se nestas palavras: Cristo é Deus. No plano sacramental: o pão é Seu corpo e o vinho é Seu sangue. Além disso, há uma conexão entre os mistérios eucarísticos e onomásticos: o Um está realmente presente em Seu Nome, ou seja, Ele é Seu Nome.
                                A Eucaristia é o centro da graça do Cristianismo; ela deve portanto expressar integralmente o que caracteriza essa tradição, e assim o faz ao conter não só o mistério do Cristo, mas também sua dupla aplicação aos mistérios maiores e menores; o vinho corresponde aos mistérios maiores, e o pão, aos mistérios menores; isso é claramente mostrado não só pelas naturezas respectivas dos sagrados elementos, mas também pelos seguintes fatos simbólicos: o milagre do pão é quantitativo, no sentido de que Cristo multiplica o que já existe, enquanto que o milagre do vinho é qualitativo, pois o Cristo confere à água uma qualidade que ela não tinha, aquela do vinho. Ou novamente, o corpo do redentor crucificado tinha que ser perfurado, a fim de que o sangue pudesse fluir; o sangue representa assim o aspecto interior do sacrifício, o que é reforçado pelo fato de que o sangue é líquido, ou não-formal, enquanto o corpo é sólido, ou formal; o corpo de Cristo tinha que ser perfurado porque, usando a linguagem do mestre Eckart: " se você quer a semente, deve quebrar a casca". A água que fluiu do lado de Cristo e comprovou Sua morte, é como o aspecto negativo da alma transmutada: é a extinção que, segundo o ponto de vista, acompanha ou precede a plenitude beatificada do sangue divino; é a "morte" que precede a "Vida", sua prova externa.
                                 O Cristianismo apoia-se também em dois mandamentos supremos, os quais contém toda a lei e profetas. Na gnose, o primeiro mandamento - total amor à Deus - implica em despertar da consciência do Eu, enquanto que o segundo - amor ao próximo - refere-se ao ver o Eu no não-eu. Da mesma forma, pela prescrição do oratio et jejunium: todo o Cristianismo apoia-se nestas duas disciplinas, oração e jejum. Oratio et jejunium: Jejuar é, em primeiro lugar, abster-se do mal; em segundo lugar, anular-se à Deus (vacare Deo), enquanto que a oração - a  lembrança de Deus - afirma-se por si só, realizando assim, a vitória já conquistada pelo Redentor.
                                  A oração culmina numa constante invocação dos Nomes divinos, na medida em que é uma espécie de lembrança articulada. A Lenda Dourada, de tão ricos ensinamentos, contém histórias que prestam tal testemunho: um cavaleiro desejava renunciar ao mundo e entrar na ordem Cisterce; ele era iletrado e além disso, incapaz de memorizar; de todos os ensinamentos que havia recebido, só guardava duas palavras: Pai Nosso; essas duas palavras ele guardava com tanto cuidado, que passava o tempo todo pronunciando-as a si mesmo onde quer que fosse e o que quer que estivesse fazendo. Após a sua morte, um belo lírio nasceu de sua sepultura, e em cada pétala estava escrito em letras douradas Pai Nosso; os sacerdotes abriram o túmulo e verificaram que a raiz do lírio crescia da boca do cavaleiro. Para essa história temos somente uma palavra a acrescentar, ao que se refere à qualidade divina do Nome da Virgem: aquele que diz Yeshua , diz Deus; aquele que diz Maria, diz Yeshua , portanto, Ave Maria - ou o Nome de Maria, é um dos Nomes divinos, aquele que está mais perto do homem.
                                  A Lenda Dourada conta também que os executores de Santo Inácio de Antioquia ficaram surpresos pelo fato de que o santo pronunciava o nome de Yeshua sem parar: "Eu não posso parar de fazê-lo", disse o santo, "pois está escrito em meu coração." Após a morte do santo, os pagãos abriram o seu coração e viram que ali estava escrito, em letras douradas, o Nome de Yeshua.
                                  O Criador é amor e luz: mas Ele é também, em Cristo, sacrifício e sofrimento; temos aqui, mais uma vez, um aspecto ou extensão do Amor. O Cristo possui duas naturezas, a divina e a humana; Ele oferece dois caminhos, a gnose e a caridade: o caminho da caridade, distinto da gnose, implica em dor, pois o perfeito amor necessita sofrer; é no sofrimento que o homem melhor prova o seu amor; mas há também, como um preço a ser pago pela facilidade intelectual de tal perspectiva. No caminho da gnose onde toda a ênfase encontra-se na pura contemplação, sendo que a preocupação central está no aspecto glorioso do Cristo, e não em sua humanidade dolorosa - há, em alguns aspectos, uma participação na natureza divina, sempre bem-aventurada e imutável- o sofrimento não é imposto da mesma maneira; ou seja, em princípio, não há a necessidade de exceder as exigências de uma asceses geral, tal como o Evangelho designa pelo termo jejunium; o desapego, quase impessoal, prevalece aqui sobre o desejo individual de sacrifício. Toda a espiritualidade Cristã oscila entre estes dois pólos, embora o aspecto da caridade e do sofrimento prepondere enormemente, na prática, e por razões óbvias, sobre o aspecto da gnose e da contemplação.

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