quinta-feira, 21 de junho de 2012

A Criação do homem II


                               Embora isso já tenha sido explicado suficientemente em outros livros, como nem todos os tem em mãos, é necessário que se faça um resumo sobre a criação do homem, a fim de que a encarnação de Cristo seja, mais à frente, bem compreendida. Também por causa das pérolas, as quais no curso de sua busca, cabem mais e mais ao homem, sendo reveladas e concedidas à ele. Recriar a mim mesmo com o Criador, produz em mim grande satisfação. 
                               A criação do homem ocorreu em todos os três Princípios, ou seja, na natureza e propriedade eterna do Pai, na natureza e propriedade eterna do Filho, e na natureza e propriedade deste mundo. No homem, criado pelo Verbum Fiat, foi soprado o espírito ternário para sua vida, a partir de três princípios e fontes. Por um Fiat triplo ele foi criado, compreenda o que é corporal e essencial; a vontade do coração do Pai introduziu no homem o espírito, de acordo com todos os três Princípios. Compreenda isso da seguinte forma: O homem foi criado inteiramente à semelhança do Criador. O Criador manifestou-se na humanidade numa imagem, que deveria ser como Ele próprio. Pois o Criador é tudo e tudo surgiu dele; como nem tudo é bom, consequentemente o tudo não é chamado Criador. Pois, com relação à pura divindade, o Criador é um espírito de luz-flamejante e habita em nada, unicamente em si mesmo; não há nada como ele mesmo.
                               Mas com relação à propriedade do fogo, de onde a luz é gerada, conhecemos a propriedade do fogo como sendo a natureza, que é a causa da vida, movimento e espírito, de outra forma não haveria nenhum espírito, nenhuma luz, nenhum ser, mas uma eterna quietude; não haveria características, nem virtudes, mas somente um não fundamento sem nenhum ser. 
                               Embora a luz da Majestade habite o não fundamento (falta de fundamento) sem ser capturada pela natureza e propriedade ígnea, devemos considerar o fogo e a luz, da seguinte forma: O fogo possui e produz uma fonte terrível e consumidora. Ora, há na fonte um decair, como um morrer, ou uma livre desistência. Esta livre rendição atinge a liberdade fora da fonte, como na morte, sem que haja morte alguma; mas ela descende um grau mais profundo em si mesma sendo libertada do tormento da angustia do fogo, mantendo a aspereza do fogo - mas não na angústia e sim na liberdade. 
                              Com isso, a liberdade e o não fundamento passam a ser uma vida, e tornam-se uma luz; pois a liberdade recebe um lampejo da fonte angustiante e passa a desejar a substancialidade; o desejo se faz fecundo com a substancialidade da liberdade e da brandura. Pois aquilo que se aprofunda ou se volta para longe da fonte da angústia, regozija-se por estar livre da angústia, atraindo a satisfação para dentro de si e passa, com sua vontade, para fora de si, penetrando a vida e o espírito de alegria. Para expressar tal fato necessitaríamos de uma linguagem angélica. Mas na seqüência, ofereceremos ao leitor que ama o Criador, uma curta notificação para sua reflexão, a fim de compreender a substancialidade celeste.
                              No Criador tudo é poder, espírito e vida; mas o que é substância não é espírito. Aquilo que descende do fogo, no não poder, é substância. Pois o espírito continua no fogo, mas separado em duas fontes: a do fogo e a que se inclina para a liberdade e para a luz. Esta última é chamada o Criador, pois é branda e amorosa, contendo em si o reino da satisfação. O mundo angélico é compreendido na liberdade que descende da substancialidade. 
                              Por termos abandonado a liberdade do mundo angélico para penetrarmos a fonte de trevas, cujo abismo é o fogo, não haveria remédio para nós, a menos que o poder e o Verbo da luz, como um Verbo da Vida Divina, torna-se um homem, a fim de nos tirar das trevas, através do tormento do fogo, da morte no fogo, penetrando novamente a liberdade da Vida divina, a essencialidade divina.
                              Portanto, o Cristo tinha que morrer e com o espírito da alma passar pelo fogo da Natureza eterna, ou seja, pelo inferno e pela cólera da Natureza eterna, para a essencialidade divina, fazendo de nossa alma um caminho através da morte e da cólera, neste caminho devemos com Cristo e em Cristo penetrar a morte para a Vida divina eterna. 
                              Mas com relação a essencialidade divina, ou seja, com relação a corporalidade divina, devemos compreender o seguinte: A luz fornece a brandura como um amor ; ora, a angústia do fogo deseja a brandura, capaz de saciar sua grande sede; pois o fogo é um desejar e a brandura um ceder, já que cede a si mesma. Assim, no desejo da brandura, o ser é produzido, como uma essencialidade substancial que escapou da ferocidade, que doa livremente sua própria vida: tal é a corporalidade.
                              Pois, através do poder na brandura, torna-se substancial, sendo atraída e retida pelo amargor, ou seja, pelo Fiat eterno. Chama-se substancialidade ou corporalidade porque encontra-se rebaixada à fonteígnea e espírito, estando relativamente fraca, morta ou sem poder, embora seja uma vida essencial.

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